você tem onde ficar?

de todos os medos que atormentam os que não conseguem dormir
talvez o mais assustador seja não ter um lugar debaixo da lua
o espaço de brisa que abrigue e acalme, quando tudo em volta é noite
quando todo o resto grita insanidades tolas e tristes
bradando maldades, pressupondo derrotas e antevendo misérias
penso que deveria ser direito universal a garantia deste lugar
o texto poderia rezar:
“todo ser humano tem direito a, pelo menos, um instante de paz por dia, a fim de recompor-se, respirar fundo e reposicionar-se diante da vida, com mais coragem e alegria”.
um rouxinol veio me contar que ao final da tarde ele volta ao seu lugar
e ali está seguro, não há perigos
fica ali na curva da lagoa e a visão é revigorante, dizia ele
aconchega-se em seu ninho e já não precisa ansiar subsistência
apenas descansa, apenas se acalma, apenas observa o deitar do sol
e deste lugar privilegiado ele enxerga o que ninguém mais vê
dali se encanta com todos os céus
dali visita paisagens desconhecidas
e anseia por elas em silêncio
e tudo isto só é possível
por ter ele um lugar
que fica ali, na curva da lagoa, árvore maior
esquina do dia, ante-sala do que vem
e o testemunho de meu amigo me faz propor que mudemos o texto:
“todo ser humano tem direito a um abrigo, na curva de qualquer lagoa, a fim de encantar-se com aquilo que ainda não é”.
Jonatas Cavalheiro

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