Entre redemoinhos e o mar

É comum que no final de um ano olhemos para trás, percebendo que no curso do tempo que já não é, erramos, nos enganamos, perdemos oportunidades e falhamos em nossos relacionamentos. Tenho feito este exercício.
Estes dias me peguei pensando que seria interessante ter uma “máquina do tempo”, que pudesse me levar àquele instante exato de uma escolha que se mostrou enganosa, no instante imediatamente anterior àquela palavra que magoou.
Já pensou se existisse de fato esta possibilidade? Alguém poderia dizer:
- Ótimo! Minha chance de consertar os passos!
Tenho uma desconfiança quanto a isto.
Se tivéssemos a chance de retornar no tempo e corrigir a palavra dita, a ação precipitada, de que forma iríamos desenvolver a responsabilidade com nossos atos? Cairíamos num espiral de avanço e retrocesso e, assim, a vida não correria seu curso natural. Ficaríamos presos num redemoinho eterno, posto que erramos com freqüência. Não chegaríamos nunca ao mar. Converteríamos a vida numa barragem de comportas fechadas. Não veríamos a trajetória, os cenários mudando, as diferentes margens. Não haveria o movimento nas pedras, nas pequenas frinchas, nas quedas d´água.
A impossibilidade de retornar no tempo contribui para que sejamos mais sérios em nossas escolhas e decisões. Contribui para que pensemos antes de agir ou dizer, sabedores de que nossos movimentos podem, inclusive, alterar o curso da vida de outras pessoas.
Na maior parte das vezes, quero crer, erramos sem querer. Por um momento nossa visão torna-se parcial, vitimada pela neblina que, em muitos instantes, toma conta do leito. E erramos. Erramos na avaliação do momento, dizendo ou fazendo coisas que nos distanciam de pessoas ou da própria paz.
Ao olharmos por detrás dos ombros, é normal que lamentemos algumas cenas da vida que passou. E não é possível voltar no tempo.
Mas a percepção dos erros nos ajuda a olhar o sulco do rio à frente e seguir de maneira mais serena, percebendo nas curvas a oportunidade de desviar-nos daquilo que não é virtude.
Nos igarapés quero acertar, acarinhando gente e matando sedes., concluo.
Não desejo redemoinhos. Quero ir me acertando na corredeira.
Da vida não quero barragens. Da vida espero o mar.
Jonatas Cavalheiro

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1 comentários:

*Lais* disse...

Lindo texto!

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