Entre redemoinhos e o mar

É comum que no final de um ano olhemos para trás, percebendo que no curso do tempo que já não é, erramos, nos enganamos, perdemos oportunidades e falhamos em nossos relacionamentos. Tenho feito este exercício.
Estes dias me peguei pensando que seria interessante ter uma “máquina do tempo”, que pudesse me levar àquele instante exato de uma escolha que se mostrou enganosa, no instante imediatamente anterior àquela palavra que magoou.
Já pensou se existisse de fato esta possibilidade? Alguém poderia dizer:
- Ótimo! Minha chance de consertar os passos!
Tenho uma desconfiança quanto a isto.
Se tivéssemos a chance de retornar no tempo e corrigir a palavra dita, a ação precipitada, de que forma iríamos desenvolver a responsabilidade com nossos atos? Cairíamos num espiral de avanço e retrocesso e, assim, a vida não correria seu curso natural. Ficaríamos presos num redemoinho eterno, posto que erramos com freqüência. Não chegaríamos nunca ao mar. Converteríamos a vida numa barragem de comportas fechadas. Não veríamos a trajetória, os cenários mudando, as diferentes margens. Não haveria o movimento nas pedras, nas pequenas frinchas, nas quedas d´água.
A impossibilidade de retornar no tempo contribui para que sejamos mais sérios em nossas escolhas e decisões. Contribui para que pensemos antes de agir ou dizer, sabedores de que nossos movimentos podem, inclusive, alterar o curso da vida de outras pessoas.
Na maior parte das vezes, quero crer, erramos sem querer. Por um momento nossa visão torna-se parcial, vitimada pela neblina que, em muitos instantes, toma conta do leito. E erramos. Erramos na avaliação do momento, dizendo ou fazendo coisas que nos distanciam de pessoas ou da própria paz.
Ao olharmos por detrás dos ombros, é normal que lamentemos algumas cenas da vida que passou. E não é possível voltar no tempo.
Mas a percepção dos erros nos ajuda a olhar o sulco do rio à frente e seguir de maneira mais serena, percebendo nas curvas a oportunidade de desviar-nos daquilo que não é virtude.
Nos igarapés quero acertar, acarinhando gente e matando sedes., concluo.
Não desejo redemoinhos. Quero ir me acertando na corredeira.
Da vida não quero barragens. Da vida espero o mar.
Jonatas Cavalheiro

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Culto de Natal - 2011



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Roda do Advento - Igreja Metodista do Ipiranga


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e não é?


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para meus amigos e minhas amigas...


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Milha Noturna - Breve reflexão sobre o tempo e sua pressa

Olhai para as aves do céu! Mateus 6:26a

Gosto de fazer caminhadas. Costumo separar uma ou duas noites por semana para esta prática, utilizando as passadas para um tempo de oração, reflexão, fomento de projetos e organização do dia que vem.

Numa destas “jornadas” pensava justamente sobre o ritmo frenético dos dias, que nos faz afundar num emaranhado de compromissos, afazeres, pressas e atrasos. Como é comum dizermos e ouvirmos:

- Não tenho tempo! Não dá! Impossível!

Por vezes a demanda é o trabalho, por vezes o lazer, a igreja, por vezes a família. E despedindo-nos daquilo que realmente nos preenche, os dias vão perdendo a graça, ganhando tons de cinza e de auto-anulação. Assim escapam, escoam, se vão.

O engraçado é que durante uma destas minhas “milhas noturnas”, enquanto pensava nestas questões, numa rua sossegada da vila, me deparei com uma coruja. Sim, aquele animal noturno belíssimo que normalmente se vê no campo. Há muito tempo não via uma coruja, desde a infância na cidade de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Naquele instante paralisei, com medo que meu movimento a afugentasse. Observei-a. Observou-me também. Ela estava na guia da calçada e, depois de alguns instantes abriu suas asas e, num salto, ganhou o céu. Por um momento o seu vôo teve a lua cheia ao fundo. Que imagem linda!, pensei.

Confesso que aquilo me encantou. Vê-la mudou minha rotina e aquele dia deixou de ser um dia comum, para ser o dia em que revi uma coruja.

Desta experiência conclui que é importante que tenhamos novas balizas na existência, a fim de que os dias não sejam iguais. Li certa feita que a criança é tão empolgada com a vida por que em seu universo é tudo novidade. A noção da passagem do tempo é diferente para ela: cada dia tem um gosto especial.

Prestes a iniciar mais um ano deixo a dica. Um pouco de criatividade no cotidiano fará com que você se reposicione diante da vida, tornando-a relevante pela simples percepção de que não estamos presos em nossas limitações, mas plenos de oportunidades dignas do Evangelho.

Para que nos livremos desta impressão de que nossa vida está passando depressa, importa conhecer lugares, trocar a rota, repartir flores, conhecer pessoas, experimentar um doce, redescobrir o entorno. Importa rever corujas. Importa que haja novidade.

Todo dia deve ter a oportunidade de ser único e especial.

Que nas tuas “milhas” diurnas e noturnas o teu olhar esteja sensível a perceber as novas direções para as quais o próprio Deus está te apontando. Olhai as aves do céu!

Com estima pastoral,

Jonatas Cavalheiro, pastor

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